Rubi

Rubi
França Porto de Bordeaux 26 de maio de 1870


Era outono, período que as colheitas são realizadas, quando o navio a vapor La Guienne vindo do Rio de Janeiro ancorou na cidade de Bordeaux com suas mercadorias e passageiros, um deles chamado Emanuel de Almeida, que apesar dos seus vinte e oito anos já era considerado um grande importante fazendeiro e negociante de café.
Emanuel estava em sua cabine particular da primeira classe que não era nem um pouco modesta, toda talhada em madeira. De quem está na porta da entrada olhando para o interior do ambiente, vimos duas janelas do lado direito com vista para o mar, uma cama forrada com lençóis brancos de seda localizada abaixo das janelas e cortinas românticas em azul marinho com detalhes em branco, do outro lado um armário, um sofá, uma mesinha com uma bacia cheia de água e um espelho. Os móveis acompanhando o modelo do quarto, também talhados em madeira, combinavam sutilmente com as cortinas
Emanuel olha pela janela e logo avista a bela cidade de Bordeaux, após conferir suas malas e uma pasta média de couro preto onde levava documentos importantes a qual dificilmente se separava, ele seguiu para o desembarque. Descendo a rampa do navio o belo rapaz de cabelos negros e ondulados, olhos castanhos, pele clara e corpo robusto logo percebe um cavalheiro trajando fraque e segurando uma espécie de papel escrito seu nome “Emanuel de Almeida” em letras grandes, este era o contato designado pela empresa a qual faria negócio, eles se cumprimentaram e seguiram para o hotel onde o cafeicultor ficaria hospedado. Lá chegando, ambos se despediram marcando para se verem em outro momento, assim que Emanuel estivesse descansado da viagem. Ele deixa suas bagagens ao lado do guarda-roupa, vai até a bacia de prata com água sobre a mesa, lava o rosto e as mãos, vai até a janela e admira a paisagem que o inspira a conhecer as charmosas ruas de pedra da cidade.
Com as mãos nos bolsos da calça, distraído com as moças que passavam mandando-lhe risinhos e olhares discretos, alguma coisa do outro lado da calçada havia feito Emanuel congelar naquele momento. Ele simplesmente parou com os olhos ofuscantes e bem abertos, estava prestando atenção em cada movimento da bela senhorita que acabara de avistar em uma floricultura, pensou estar vendo uma miragem e piscou os olhos apertando-os, e quando os abriu, ainda estava lá a linda moça de longos cabelos ruivos, olhos verdes, pele rosada, um pouco magra, mas com suas curvas em perfeita harmonia. Foi quando sem se dar tempo para pensar, rapidamente atravessou a rua e entrou na pequena lojinha de flores. Logo que entrou, com os olhos esperançosos, procurou pela moça que apareceu em sua frente, ao se virar rapidamente, com um sorriso gracioso como o de uma criança e uma voz aveludada, a senhorita de vestes simples e com um avental perguntou:


Senhorita
– Je peux aider-seigneur?



Emanuel não entendendo o que a moça dizia, gesticulou perguntando em português;
– Desculpe-me senhorita, não falo seu idioma.


Senhorita falando em português;
– Perguntei se posso ajudá-lo senhor?


Emanuel surpreso com o português expressado pela moça com perfeição;
– Então a senhorita fala meu idioma? E muito bem por sinal.


Senhorita
– Aprendi com minha avó, ela era portuguesa e meu avô francês e costumava desde pequena ficar brincando e conversando com ela neste idioma, ela sempre me dizia que nunca devemos esquecer-nos de onde viemos.


Emanuel
– Muito bem! Que felicidade encontrar uma pessoa na França que faça eu me sentir em casa. A senhorita trabalha aqui?


Senhorita
– Sim senhor, gostou de alguma coisa?


Emanuel
– Sim, claro, hammm... Poderia me ajudar a escolher flores para uma linda senhorita? É que nunca fiz isso.


Senhorita intrigada pergunta sorrindo;
– O senhor nunca mandou flores para uma moça? (Emanuel fica sem saber o que responder e a senhorita percebendo ter deixado o cavalheiro encabulado, abaixa a cabeça educadamente a fim de redimir-se). Desculpe-me senhor.


Emanuel
– Ah! Imagine, é que ela é uma moça muito especial, diferente de qualquer outra que já vi.


Senhorita
– Se me disser como ela é, talvez eu possa ajudá-lo.


Emanuel olha no fundo dos olhos da senhorita, apreciando-a e como quem estivesse hipnotizado diz:
– Bem, a primeira vez que a vi, fiquei triste por ter passado tanto tempo sem saber que ela existia e ao mesmo tempo quase explodi de felicidade por ter a chance de tê-la para mim. Quando olho para ela me acalmo e me desespero. Cada movimento que faz é doce, seguro e o olhar dela incendeia meu corpo.


Senhorita despertando da hipnose provocada por Emanuel, um pouco sem graça responde:
– Nossa! O senhor parece estar apaixonado. Sei qual tipo de flor pode dar para esta moça tão especial.
Emanuel


– E qual seria?


Senhorita andando em direção às flores, Emanuel a segue;
- Orquídeas. Com um grande número de variedades são conhecidas por sua beleza delicada e seu caráter exótico, elas possuem uma história intrigante e que desperta interesse. Os significados das orquídeas incluem o amor, a beleza, o luxo e a força. É particularmente um tipo elegante de flor se tornando um presente perfeito para muitas ocasiões. Sua aparência graciosa atrai a atenção imediata, e por ser uma flor exótica e incomum, invoca um sentido de refinamento e de inocência. Como existem muitas variedades de orquídeas a escolher, o senhor sempre encontrará uma que expresse a mensagem exata, seja para agradecer a alguém ou para revelar um sentimento mais profundo. Elas podem fornecer uma grande variedade de mensagens, porém, historicamente, elas incluem riqueza, amor e beleza. Hoje, os significados principais das orquídeas são o simbolismo à beleza rara, a delicadeza de seus encantos e misticismo que encantam os que a recebem. Poucas são as flores capazes de expressar estes sentimentos, eu recomendo no seu caso esta. (A senhorita pega a flor e a leva até as narinas de Emanuel fazendo com que ele sinta o aroma).


Emanuel inspira o perfume e fica extasiado;
– Hummm.É muito bom!


Senhorita continua com seus profundos conhecimentos na área de flores e suas características;
- Isabelia Virginalis, de todas as orquídeas, só ela possui uma única espécie, atrevendo-me a dizer senhor, que assim como sua amada, ela é única.


Emanuel
– É exatamente como sinto que ela seja. Quero o maior buquê que já tenha arranjado senhorita.
A moça dá um leve sorriso e apanha as flores, levando-as para um balcão, ela pega uma grande folha de papel amarelo e embrulha as orquídeas, amarrando-as com uma fita branca. Emanuel põe a mão no bolso de seu terno executivo e apanha um grande volume de dinheiro, a moça não consegue disfarçar sua expressão de espanto, ele divide o dinheiro em duas partes, guardando uma no bolso e a outra ele dá para a moça.


Senhorita
– Não, não senhor! Isso é muito!


Emanuel
– A senhorita mostrou um grande conhecimento em flores, graças a sua dedicação ao que faz, hoje vou sair daqui sabendo mais de orquídeas do que esperava.


Emanuel separa duas notas do dinheiro a mais do que custaria o arranjo;
– Isto deve pagar o buquê. (Ele pega sutilmente na mão da senhorita como se estivesse com medo de quebrá-la, apoia as notas do dinheiro sobre esta e diz): Por ter sido tão dedicada e atenciosa comigo.


Senhorita com um olhar meticuloso responde;
– Eu não vou recusar senhor!


Emanuel sorrindo;
– Que bom, assim não vou precisar insistir. (A moça entrega o buquê para Emanuel, ele o segura com as duas mãos e aprecia, sente seu aroma, olha para a moça que esta parada a frente dele e pergunta): A senhorita poderia me dizer sua graça?


Senhorita
– Sophie senhor!


Emanuel apreciando a pronúncia do simples nome da simples senhorita como se estivesse degustando um vinho;
– Sophie, senhorita Sophie. (Com a voz ainda doce apesar do seu timbre ligeiramente rouco, ele estica seus braços com o buquê de flores para Sophie e diz): Por favor senhorita Sophie, aceite. Eu estava do outro lado da calçada quando meus olhos brilharam e meu coração disparou saindo pela boca assim que a vi, e nada se encaixa tão perfeito como essas flores agora, por sua beleza rara, a delicadeza de seus encantos, ao amor que brota. Estas flores são para a senhorita. Sophie, a mais bela das flores já cultivadas em qualquer jardim deste mundo.


Sophie, surpreendendo-se, encabula-se e sai de trás do balcão indo até Emanuel;
- Senhor eu agradeço, mas estou trabalhando e não posso aceitá-las.


Emanuel segurando as flores junto ao seu corpo;
– Quando sair poderá aceitá-las?


Sophie pensa por alguns segundos admirando a expressão esperançosa e ansiosa de Emanuel;
– Só sairei daqui a três horas senhor.


Emanuel aliviado do suspense suspira e declara;
– Três horas não são nada por uma chance de passarmos o resto da vida juntos. Posso esperá-la?


Sophie sorri, pensa por mais alguns segundos e se surpreende com a própria resposta;
– Está bem senhor. (Emanuel se vira e caminha até a porta de saída da loja).


Sophie chamando-o;
– Monsieur!


Emanuel vira-se rápido, preocupado que a moça tenha mudado de idéia;
– Sim senhorita Sophie.


Sophie
– Como posso chamá-lo?


Emanuel sorri aliviado;
– Emanuel de Almeida, mas me chame apenas por Emanuel. (Sophie retribui ao sorriso do cavalheiro).